Exclusivo: Presidente do Sindicato Rural de Linhares, fala da luta dos produtores rurais após quatro anos do rompimento da Barragem de Mariana

No último 5 de novembro, completou quatros anos desde o rompimento da barragem de Mariana em Minas Gerais, de lá para cá, se travou uma verdadeira guerra de poder por parte da multinacional, e de sobrevivência por parte dos atingidos pela lama da mineradora.

Sem contar o prejuízo incalculável, causados na fauna, flora e mananciais e com a suspensão do abastecimento de água potável, em várias cidades que margeiam o rio doce.

De acordo com especialistas ouvidos, estes prejuízos, não se tem previsão de tempo e de valores parar se recuperar os estragos ao meio ambiente. Além da luta para recuperar o crime cometido contra o meio ambiente, outra guerra, esta  mais silenciosa, vem se travando nos tribunais, em audiências, e pela classe política capixaba contra a poderosa mineradora.

Diferente do que aconteceu desde o início com os pescadores, que foram identificados, cadastrados e indenizados, outra importante categoria do setor produtivo vê, a cada dia que passa, suas forças se esgotarem e seus pedidos sendo negados por vezes infindáveis.

Os produtores rurais capixabas, uma das categorias mais prejudicadas pela lama da Samarco, e um importante seguimento da economia do Estado, viu de uma hora para outra, se destruir propriedades, currais, casas equipamentos, implementos agrícolas e dizimação de lavouras inteiras, e apesar de tudo isso, não tem encontrado acolhimento de suas reivindicações por parte da Renova, que é hoje, a representante legal da Mineradora Samarco, para intermediar, definir valores e pagar os prejuízos causados, mas de acordo com o Presidente do Sindicato Rural de Linhares Antonio Roberte, não é isto que vem acontecendo.

Acompanhe na entrevista a seguir: 

Radar Capixaba: Como está a situação dos produtores rurais, após 4 anos de contaminação por parte da lama da Samarco, e depois, com o fechamento da barragem no Rio Pequeno, onde várias propriedades foram alagadas?

Antonio Roberte: Estamos enfrentando uma situação lamentável, apesar da grande força que conseguimos unir, com apoio da Justiça, Ministério Público Estadual e Federal, apoios da Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, ainda não conseguimos avançar na questão das indenizações e prejuízos causados aos produtores rurais, infelizmente, existem casos onde propriedades tiveram sua produção completamente comprometida por causa da contaminação e a Renova reluta em reconhecer o prejuízo do produtor.

Radar Capixaba: Quando falamos em prejuízos, qual é a dimensão e quanto tempo levará para que os produtores se recuperem deles?

Antonio Roberte: Para se ter uma idéia, hoje temos propriedades rurais com 100% de suas áreas produtivas alagadas e sem um dia de remuneração por isso. Em outros casos, temos as pastagens do gado de leite e de corte, que além da contaminação, sofreram com várias pragas, como ervas daninhas, que não são de nossa região e vieram com a enchente, que vai causar um desequilíbrio ambiental, tudo isso, incluindo o lucro cessante, nós na visão mais otimista, vamos levar no mínimo 24 meses para retornar a produção normal nestas áreas atingidas, mais isso é uma perspectiva otimista, por que nem os especialistas conseguem confirmar isso com precisão.

Radar Capixaba: Como estão sobrevivendo esses produtores que tiveram suas propriedades complementarmente inviabilizadas pela enchente da lagoa após a barragem?

Antonio Roberte: A situação é lamentável, apesar de apresentarmos laudos técnicos fornecidos pelo Incaper (Instituo Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), laudos particulares, emitidos por engenheiros agrônomos, além dos próprios laudos da empresa Sinergia, contratada pela Renova, é uma luta desgastante, por que estamos enfrentando em nível de desigualdade, uma empresa muito poderosa, enquanto isso, produtores rurais que tem como única fonte de renda, suas propriedades rurais, não podem trabalhar e não recebem nenhum subsídio por parte da Renova.

Radar Capixaba: Até o momento nenhum produtor foi indenizado?

Antonio Roberte: Em alguns casos isolados a Renova conseguiu fazer acordos de forma individual com alguns produtores e como foram feitos de forma individual não nos envolvemos. Hoje lutamos, enquanto sindicato, na mobilização, assessoria técnica e jurídica, e na busca de parcerias com outras entidades e da classe política, para que a Renova reconheça os prejuízos de propriedades, que ela tem sido relutante em reconhecer, e do reconhecimento dos prejuízos que produtores tiveram, que está bem acima das indenizações oferecidas pela Renova.

Situação atual

No Espírito Santo, as três principais cidades atingidas pela lama da Samarco foram: Colatina, Baixo Guandu e Linhares; e apesar de alguns Diretores da Renova terem sido afastados por não conseguirem avançar nas demandas reivindicadas pelos atingidos, apesar da intervenção da justiça, CPI na Assembleia Legislativa Estadual e apoio de parlamentares da Câmara Federal, não se vê, em curto prazo, um desfecho para esse problema que tanto mal tem causado a população e ao meio ambiente de forma geral.

Neste mês, por determinação da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte, a Fundação Renova deve remover a barragem do Rio Pequeno em Linhares, os trabalhos começaram no inicio do mês, depois de laudos de especialistas apontarem riscos de a estrutura se romper.

Várias famílias precisaram se deslocadas de suas casas e foram hospedas em hotéis ou se mudaram para casas alugadas na cidade, tudo custeado pela Renova.